OpiniãoNa edição de hoje do Jornal ionline, saiu uma entrevista à economista venezuelana Carlota Pérez, especialista em ciclos longos tecnológicos e papel do capital financeiro, segundo ela, vivemos tempos de grandes mudanças tecnológicas que se repetem em cada 50 anos, no entanto é sua opinião que “A prosperidade está já ao virar da esquina…” mas que para tal é necessário não “tapar com areia os problemas que nos guiaram até à crise actual”.
A determinada altura diz “Esta crise marca o fim da necessidade de termos as finanças a controlar a economia. Hoje é preciso que o Estado volte a ser activo”, será que deve ser assim? Não tivemos já no passado exemplos de economias em que o estado era demasiado interventivo, o que aconteceu? - Economias atrasadas tecnologicamente e com falta de inovação, viviam para dentro ignorando tudo o que os rodeava. Talvez não seja esta a intervenção do estado que a economista defende, talvez seja só uma intervenção de regulação do mercado, isto porque mais a frente na sua entrevista refere, “É pegar no dinheiro e transferi-lo para os empreendedores, convertê-los em grandes empresas, como a Google ou Microsoft. O capital tem agora que voltar a apoiar a produção.”, ora se assim é, então a intervenção do estado deve ser só mesmo de regulamentação.
Quando questionada sobre qual o papel do estado depois da crise, a economista compara a crise a “um doente em estado critico” em que a prioridade é salva-lo e essa salvação está do lado dos estados. Após o “doente” estar salvo, a “preocupação passa por evitar que ocorra o mesmo” para tal os estados devem “mudar as regras de funcionamento do sistema financeiro” dando-lhe mais transparência. Hoje sabemos que um dos factores que esteve na base da actual crise foi a falta de transparência, isto já aprendemos.
Ao longo da entrevista são várias as soluções dadas para que não se volte a cair numa situação de crise financeira e económica. É sugerido que se invista nos continentes menos desenvolvidos (África e América Latina), sem que esse investimento seja feito à custa do aumento de desemprego na Europa, para tal Carlota Pérez defende que a solução passa pela especialização regional, onde os países desenvolvidos devem apostar nas áreas do “entretenimento, educação, indústrias criativas, ambientais, biotecnologia, nanotecnologia, etc” e deixar a produção, que requer muita mão-de-obra, para os países com elevada densidade populacional como é o caso dos asiáticos, os países com muitos recursos naturais, como o são os da América Latina e África, deveriam ficar com a indústria de processamento de materiais, química ou agro-industrial. Termina este raciocínio com a frase “A globalização plena da produção pode elevar o nível de vida do terceiro mundo como o
Welfare State* fez com o primeiro mundo”.Se está é a receita, com estes condimentos, temos que ter em conta que o forno para a confecção da receita não é o mesmo, o meio envolvente de hoje não é o mesmo do que existia no final do Sec. XIX a quando do surgimento do Welfare State, pelo que possivelmente a confecção terá que ser feita de outra forma também.
A entrevista termina com a defesa do Supranacionalismo como sendo uma das principais soluções para combater a crise e promover o crescimento sustentado, defende ainda, que os países devem ter politicas nacionais mas não nacionalistas, devem ceder alguma da sua quota de poder em favor das estruturas supranacionais. Esta não é uma medida fácil de aplicar na medida em que cada país tem a sua própria política e que para ceder em favor de estruturas supranacionais são muitos os obstáculos que é necessário transpor, obstáculos estes de ordem financeira, económica, social e religiosa.
Carlos Pereira
*Welfare Sate - Estado de bem-estar social, também conhecido como Estado-providência, é um tipo de organização política e económica que coloca o Estado (nação) como agente da promoção (protector e defensor) social e organizador da economia. Nesta orientação, o Estado é o agente regulamentador de toda vida e saúde social, política e económica do país em parceria com sindicatos e empresas privadas, em níveis diferentes, de acordo com a nação em questão. Cabe ao Estado do bem-estar social garantir serviços públicos e protecção à população. (Fonte: Wikipédia)